terça-feira, maio 17, 2005

Relações de trabalho em Value Clouds.

Ruminando um pouco mais sobre os buiding blocks que pululam em Value Clouds (estou gostando desse termo, tomara que não tenham inventado antes mesmo), resolvi falar sobre algo que incomoda a todos: As relações de trabalho.

Essa idéia me incomodou porque em extremos momentos, eu assisti a um filme chamado DogVille, com a Nicole Kidman, enquanto lia os livros do mês, o 8 Hábito/Stephen Covey, From the Guts/Jack Welch e 11 minutos/Paulo Coelho. Então, as sincronicidades da mídia, pois a Você S.A desta semana vem com uma mateira sobre CONFLITOS NO TRABALHO (e como não sair na porrada com seus colegas), e na ultima InformationWeek.BR a capa da última matéria era: DEMITA SEU CHEFE. A soma de tudo isso se traduz nos corredores da maioria das empresas, nas comunidades orkutinianamente dilbertinianas, em livros idiotas como “A arte da guerra para quem roubou o queijo do pai rico” ou “Arremessando o elefante”. Resumo: ESTAMOS INSATISFEITOS, ao mesmo e precioso tempo em que NUNCA ESTIVEMOS TÃO PRODUTIVOS E TÃO CAPAZES DE REALIZAÇÕES IMENSAS! Isso é de dar nó em pingo de éter, mas eu vejo uma linha de pensamento que pode ajudar a por uma perspectiva de longo prazo nessa angústia.

Primeiro temos q entender as relações humanas num contexto amplo de liberdade e meios de produção. No princípio, éramos todos livres, até que o primeiro dinossauro carnívoro provasse o contrario. Mandando um mega-jump para a revolução industrial, voltamos todos a ser um Ford Model T, produzindo taylor-fayolisticamente em horas-homens-mulheres-e-crianças e enquadrados científicamente desde o “quadro de parafusos torcidos por hora” até os maravilhosos Balanced Scorecards modernos.

Em um ultra-resumo, o que vimos foi o nascimento de uma liberdade orientada a métricas, baseadas de alguma forma, em produção numérica (braçal ou mental, como laudas-traduzidas por uma estenógrafa). Além disso, as pessoas nessa fase deixaram de deter meios de produção. De artesãos, passaram a operários (1). E Karl Max ajudou a matar muitos russos, chineses, cubanos, leste-europeus e alguns brasileiros quando se revoltou com a Mais Valia, que na verdade nada mais era que a falta de conhecimento. Quem não era “doutor” era trabalhador braçal. E por esta primeira concentração de “renda intelectual”, tornando o conhecimento um privilégio de poucos. Nesta época, ser gente, não ter berço e não ter escola, significada ser uma “COISA”, um ativo, um fator econômico de produção, ou algo que precisa ver... GUIADO.

De um jeito ou de outro, duas grandes guerras, algumas outras tantas escaramuças de menor porte e maior divulgação da truculência depois, o acaso e o mítico poder de rebalanceamento de forças do universo fez com que as mesmas “inovações” (2) criadas para eliminar vidas mais facilmente servissem de fator catalisador para que outras forças brotassem em uma outra realidade, nunca dantes vista na estória da humanidade: A planificação universal das COMUNICAÇÔES.

A primeira delas foi o radio, depois o telégrafo, depois a TV, o telefone (a ordem pode não ser essa, mas os meios foram surgindo de maneira ampla todos no século XX). Inclusive, hoje, pensamos em Claudinetes como a expressão das redes p2p ... Mas antes delas vieram outro assombroso meio de comunicação p2p... Pensem... Alguém arrisca? O RADIO AMADOR! Pois eh.. gente de meio mundo (em especial caminhoneiros) decoravam aquelas letrinhas estranhas em varias línguas para dizer cambio e over pelo mundo afora!

E assim fomos nos comunicando, vendo o homem pisar na lua, o soldado pisar no civil, o bandido pisar na lei e... O nascimento das redes militares de finalidade viral, auto-corretivas, auto-re-roteáveis e com a finalidade única de: ENTREGAR A MENSAGEM. (3)

Pois bem... Com esse conceito simples, de infra-estrutura pau-pra-toda-obra (ou whatever it takes, a la gringuês) se desenvolveram outros muitos serviços com o mesmo conceito: Facilitar a entrega de mensagens e garantir que de algum jeito, essas mensagens chegariam a seu destino.

Com essa estrutura e mais alguns movimentos sociais interessantes (como o mundo descobrir que os comunistas matavam mesmo criancinhas, a queda de muros, pererekas e perestroikas), o mundo do início dos anos 80, ainda meio ressaqueado de duas décadas de LSD, Maconha e sonhos rebeldes, os jovens curiosos começaram revoluções usando computadores, essas redes tecnológicas e outras revoluções menos espalhafatosas mas de impacto tão profundo quanto (como por exemplo a revolução que a dupla Machintosh/pagemaker fez na publicação em pequenos volumes) na produção e distribuição de conhecimento.

E os anos 90 viram nascer as Claudinetes, em micros, em celulares, em teletextos, em BBS, em TVs a cabo, no escambau.

Resultado disso, tivemos o surgimento de uma adolescência depois de 1995 eu simplesmente não via limites físicos ao seu redor (claro, desde que falasse inglês). Estes adolescentes cresceram com informações quase ilimitadas a tudo, depois conectados a PESSOAS mundo afora nos ICQs da vida, e finalmente, falando e publicando tudo o que pensavam. Esta geração, a geração F (4), pela primeira vez na estória da humanidade congrega valores únicos no mundo:
São extremamente individualistas (5);
São extremamente orientados ao benefício próprio;
São a geração mais educacionalmente preparada que tivemos (mundialmente)
Não aceitam valores impostos.

E essa geração levanta bandeiras de rebeldia, também pela primeira vez, de impacto econômico!!!

Ao invés de queimar “suotiens”, as meninas de hoje querem ser modelos, cobrar por desfiles, poses, noitadas e afins. Os rapazes não sonham com um emprego em uma S.A. idiocrática, mas com a próxima mega-idéia FOSS (6) que irá mudar o mundo e deixar sua marca na estória!

E as gerações anteriores (a turma que como eu hoje tem entre 30 a 35 anos), que cresceu acompanhando isto tudo acontecer, acompanha este ritmo!

E qual a expressão que vemos de todo esse caldeirão de produção massiva individual de conhecimento? O AUMENTO EXPONENCIAL DE POTENCIAL DE REALIZAÇÃO HUMANO NÃO PREENCHIDO. Estamos TREMENDAMENTE FRUSTRADOS!

Em especial, os “colaboradores” (7) das grandes empresas... que ainda os tratam como coisas.. devidamente mensuradas em Balanced Scorecards modernos,

Qual seria a reação óbvia a “ponto de mutação” ? A transformação da sociedade como a conhecemos, de relações formais, de longo prazo, revestidas de uma segurança inferiorizante e paternalista, onde a ausência de “auto-meritocracia” impera em uma outra sociedade onde a liberdade será plena, mas cobrará seu preço mais alto: Que sejamos senhores do nosso próprio nariz, destino, rendimentos, aposentadoria, benefícios, posses, educação, entretenimento e descanso.

Acreditem... Esse é o preço para se jogar no novo de Value Clouds.

(to be continued)

(1) Alvin Tofler, A Terceira Onda.
(2) Leiam a Exame 842, que curiosamente fala da China.
(3) Descubram que diacho era ARPANET.
(4) Não F de Phoda, mas de Free mesmo J
(5) Vejam a ultima pesquisa MTV.
(6) Free & Open Source Software/Services
(7) Leiam o 8 hábito J

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