quarta-feira, janeiro 17, 2007

WebOnomics e o "Apple Phone"

Depois de todo o oba-oba em torno do mega-estrondoso e mal-nomeado iPhone (capa das duas maiores revistas semanais aqui em pindorama, além da MAC+8), a poeira baixou, as criticas comeram soltas, o hype evoluiu para "me deixem enfiar programas ai dentro" e "quero logo que minha operadora também tenha". Na prática, estamos todos salivando para por as mãos em um iPhone. Mas, algumas coisas em torno das externalidades econômicas deste lançamento passaram fora do hype.

De cara, a tentativa de expansão do modelo "appled garden", onde tudo o que tem no iPhone é controlado exatamente como tudo o que tem DENTRO do iPod (leia-se softwares) e dos seus serviços alimentícios via iTunes. Para um telefone GSM, chegou-se ao extremo de se coibir a troca da bateria (como no iPod) e, dizem os que viram o petardo, do próprio SIM Card. Isso só reforça o controle total da Apple no sistema economico derivado de serviços de valor que vão ao celular.

Em resumo, eles tentam colocar o modelinho do iPod (minhas musicas na minha loja só pro meu device), acrescentando minha operadora queridinha, meus amigos de search, meus videos, meus serviços de email (inclusive os sofisticados PushMail).

Ainda nesta linha, pouca gente percebeu uma nova invasão dos serviços maravilhosos do iTunes, que (teoricamente) passam a "orquestrar" a sincronização não apenas das músicas, mas também dos contatos, dos emails (inclusive pushes), dos vídeos, arquivos, etc. Basta lembrar que a Nokia comprou ano passado a Intellisync justamente para controlar essa feature. Dai para a Apple ter o próprio "portal social" (ou fazer parceria com LinkedIn e Plaxo), é só um pequeno passo. Quem usa um celular WindowsMobile e sincroniza seus contatos com o Outlook/Exchange e Plaxo vai entender o alcance do que estou falando.

Outro ponto é que este lançamento soterra de vez uma velha briga de mega modelos de operadoras: Quem controla a "experiência" final do usuário. A Cingular (ou AT&T novamente) vai ser única e tão somente a provedora do canudinho de dados. Todas as marcas de serviços importantes são de terceiros! A subversão máxima é a experiência de falar ao celular agora nao ser mais essa, mas de "usar meu iPhone". Seja pra celular, seja pra VOIP, seja para somente ouvir músicas. Isso desloca definitivamente a guerra dos serviços móveis para os provedores de serviço web. Desde o iMode japones, o mercado de celulares não passava por uma reviravolta tão grande!

Para ficar apenas nesses itens, o que se pode falar é que a Apple não lançou um aparelho. Ela entrou no mercado econômico de serviços, de uma vez por todas e talvez estejamos presenciando na verdade o nascimento é de um novo modelo de negócios, o que eu chamaria de Total Virtual Digital Services Provider (ou TVDSP).

Neste modelo, a Apple, ao incorporar o controle e o poder de um infomediário pesado dos assets mais importantes do momento (música, vídeos, sincronização de emails, etc) e dominar a gestão das plataformas do usuário (devices) com toda a histórica eficiência em criar objetos de desejo, pode ter dado o primeiro passo em criar um novo modelo de "operadora", muito similar ao que a Virgin Mobile começou a construir na Inglaterra nos anos 90 (para quem não sabe, a Virgin é uma MVNO, não tem rede, aluga da British Telecom, mas já foi eleita várias vezes a melhor "operadora celular" da Inglaterra). Isso representa uma imensa troca de poder de negociação, tirando das operadoras os ativos de mídia, as marcas de serviços e levando-os de vez para um player externo (ou vários, como as alianças demonstram).

Os próximos passos é que são complexos de se prever. A Apple vai ter de jogar xadrez em um ambiente que envolvam as operadoras, controlar a produção do aparelho (atender a demanda reprimida, leia-se), controlar que desenvolvedores e hackers não consigam colocar programas no iPhone e ainda assim rentabilizar as parcerias, e estas são só algumas das preocupações.

Mas, com certeza, abre-se um novo jogo. Em termos de economia de redes, externalidades e Webonomics, a Apple lançou todo um novo universo e abriu toda uma nova gama de possibilidades. Inclusive, aprendeu a fazer algo "evil": FUD!! O "lançamento" não foi de fato. Foi um Demo! E agora, todos nós somos consultores à serviço de Cupertino (inclusive esse artigo), fornecendo todos os "side effects" que este modelo irá gerar.

Pela primeira vez na história da Apple, além do Intel Inside, estamos vendo um FUD-Driven Launch.

Quem diria que vería-mos este dia!!

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