sexta-feira, março 02, 2007

1984 ao contrário

Amigos andam por ai postando coisas intrigantes sobre a vida D.

Erico Andrei deu um surto de historiador e defende que o mundo terá 5 "computadores" em formato grid-quantum.
"Gigantes lutam pela sua audiência e para tomar conta de seus dados e de sua empresa mediante módico aluguel. Microsoft, Google, Amazon, Ebay, Yahoo, Apple, IBM, Oracle, Newscorp e Sony entre eles."

As previsões de Érico são interessantes e me lembram a IBM dos anos 70, a dos megamastodontes (chamados de Bureaus)

Mas, para o mundo moderno, devemos considerar uma contratendência muito ponderosa, o aumento do poder de “boxing” dentro de casa. Boxing é ter tudo o que é mídia e computação em alguma coisa nada parceida com o PC atual, mas muito mais chegada aos atuais home theaters. Uma pergunta simples é onde estará minha coleção de CDs em 5 anos... Com as leis magnânimas de capacidade de processamento, de storage e de banda (principalmente com FTTH – Fiber to Home), fica impossível não “delirar” em ter uma “sala lacrada” em casa, blindada por alguns softwares de segurança privados, esquemas de auto identificação e segurança dos nossos “personal assets”. Até porque, quem lembra de 1984 morre de medo do grande irmão.

Na prática, a Microsoft, a Cisco, a Intel, a Sony, a Phillips e mais meia dúzia de start-ups vendem esse conceito há 10 anos. E quem vai nas CES vê muito disso em ação.

Claro que Google e as megamonitoradoras da vida alheia (NSA, px.) querem ter acesso a todas essas coisas, sem falar da loucura dos estúdios/gravadoras/copyrighters em controlar tudo o que você tem em casa de mídia digital. Mas, usando a navalha de Okham, lá em casa vai ter o meu “digital mega juke-all-box”, daqui há uns 5 anos.

Isso reflete como eu consumo mídia. Eu quero ter minhas fotos em minhas mãos. Acessível apenas a quem eu quero e não ao mundo em geral. Idem para minhas músicas, vídeos etc. Não faço parte de “redes sociais”, tirando o LinkedIn, que considero uma rede profissional. Não quero minha vida escancarada para PCCs e NSAs da vida.

Não sei se isso leva em conta a tendência do mundo, mas é o q eu penso, pelo menos.

Além disso, existe o nefasto mundo de onde os valores econômicos gerados pelos pobres usuários que deixam seus dados por ai e mais ainda pelos bisbilhoteiros que vão lá olhar esses dados. Tudo isso gera uma imensa massa de estatísticas de uso de mídia, navegação, visitação, navegabilidade, etc. Isto nos mudou de uma economia de programadores, onde o código e as funcionalidades valiam algo, para uma economia de produtores de conteúdo relativamente simplório no seu individual, mas que coletivamente é valioso. E, perversa e confusamente, os “produtores”de conteúdo acabam também sendo os maiores consumidores de advertising (e outras formas sutis, como os ad-videos que agora pululam no YouTube).

É só dar uma conferida nesste aritgo da O'Reilly, "The economics of online advertising". E para quem acha q "there's no free lunch", os free customers se pagam (e muito bem). Vemos isso nas pesquisas do acadêmico Sunil Gupta, como pode ser visto nessa entrevista na HBS.

"Gupta's work provides a model for determining this value and is related to research being done by colleague Andrew Hagiu and others into the dynamics of multi-sided markets: platforms that serve two or more distinct groups of customers who value each other's participation. Just how that participation is valued is a question Gupta's research begins to answer.”

Nick Carr também se impressionou com isso: "Some of the results are fascinating. The professors found, for instance, that the value of each nonpaying customer (buyer) was actually slightly higher than the value of each paying customer (seller) - even though there were far more buyers than sellers in the company's marketplace. (To put it another way, the network effect of a buyer on a seller was far stronger than the network effect of a seller on a buyer.) The research also demonstrates that it's possible to estimate optimal marketing expenditures as a two-sided business grows. While heavy markering spending is required in the early days to attract a critical mass of buyers, the network effect itself becomes a larger attractant than marketing as the business grows, allowing a company to cut back its marketing budget over time. Knowing the optimum spending amount with some precision at different points in time would help businesses maximize their profits. The information would also, the authors argue, allow a company's founders, managers, and investors to gain a more accurate understanding of the firm's overall value."

Como lembra Cristina Soares,:

“Porém, com a internet cada vez mais popular somada à TV digital (onde a interação será maior) e por fim a convergência das mídias, celebridades serão diluídas em um grande caldo de informações, interesses e pessoas. A única celebridade que restará será a própria internet.

Ah! E o Google. Que de site de busca passará a entidade onipresente. Aquele que tudo sabe. Aquele que tudo vê.”

Não sei se sou muito favorável a essa idéia de ser mais googado do que já sou!

Ricardo Banffy toca num outro ponto delicado, a histórica “sorpetência” (competência em ter muita sorte) da MS:

“Muito do monopólio da Microsoft hoje não se deve tanto à competência dela em reconhecer tendências (e aproveitá–las, com produtos e estratégias), mas à inépcia dos seus concorrentes que não raro insistem em ir contra a razão ou se atacar entre si.”

O que me lembra que tudo o que estamos discutindo pode sofrer uma imensa reviravolta via um dos mamutes do mercado... Ou de uma startup... Ou de uma ação massiva de alguém deste modelo complexo sendo desenhado.

Futurologia é isso ai, e enquanto até Silvio dá seus pitacos sobre este tema de mídia-acesso-controle-onde-vai-ser-minha-tv, mantenho a Lei de Kransberg: a tecnologia nao é má, nem boa, também não é neutra.

Escolham seus lados da batalha, saiam do muro. Tem muita gente extremamente inteligente e competente correndo nesse ônibus da estória...

SENTAPUA! E vamos à luta, filhos da Pátria!

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