quarta-feira, março 28, 2007

Mercado de Telecomunicações móveis e sua evolução

A moda agora é dizer que o mercado de telecomunicações móveis está saturado. Mentira. Pode estar em vias de saturar a base total de assinantes do Brasil, pelo modelo atual de crescimento (venda de terminais). Mas existem vários outros modelos à disposição no mercado.
A substituição de modelos antigos por mais novos é um deles. Novas cores, designs, modelos e funcionalidades (cameras, mp3 players, rádio fm, etc) são alguns dos drivers disso, mas existem muitos outros sendo analisados nos bastidores de empresas de consumo. Opções que foram tentadas em momento de crescimento e agandonadas, podem ser reativadas como estratégia de substituição. Por exemplo, quem não lembra do Baby Gol, da Telesp Celular? E times de futebol são apenas a alternativa mais comum e mais simples, mas o celular D&G da Motorola é um outro exemplo, no espectro mais sofisticado.
A entrada de aparelhos (e serviços) muito mais sofisticados, os smartphones, é outro grande movimento. O mercado já se acostumou a tudo o que vem nesses aparelhos como ferramentas essenciais de produtividade e hoje um executivo que não tenha seu smartphone já está em desvantagem em relação aos outros, pela simples disponibilidade instantânea de emails, contato e calendário sincronizados.
Os serviços mais sofisticados também acompanham essa tendência. De jogos (até o SeccondLife já tem versão mobile), aplicações corporativas, vídeos e ferramentas de geo-localização, a mera disponibilização de uma ou outra ou todas juntas já é motivo para movimentação na base, não apenas para aquisição dos aparelhos, mas também de novos planos de serviço (acesso a dados e as próprias aplicações, que são fornecidas de várias formas em vários planos de assinatura ou compra).
Essa sofisticação maior acaba alterando o próprio ecossistema de serviços, pois uma música vendida via um celular, teoricamente, não deveria ser tarifada como um serviço de telecom (com sua escorchante e absurda carga tributária), mas apenas como música. E neste caso, sobre o serviço também incidem as taxas de direito autoral, gravadoras, ECAD e etc. E, não é só a operadora que recebe dinheiro, esses outros players também devem ser remunerados, criando um efeito em cascata de tributação em vários momentos, por vários impostos, do mesmo bem.
Sem falar no complexo modelo de pagamentos via celular, que envolve tantos modelos de negócio disponíveis quanto são os sistemas financeiros de cartão no mundo. O Felica, japones, por exemplo, usa um padrão de smartcards acoplado ao aparelho, transformando a carcaça do celular no envoltório de um smartcard. Com isso, o aparelho (e a operadora) em si não fazem nada, mas a validação em alguns casos é feita devolvendo um email/sms ao aparelho. Aqui no Brasil, algumas empresas já testam o uso do vale refeição via celular, com muito sucesso nos pilotos.
E além disto, existem os mercados de appliances especiais, como os coletores de dados, os aparelhos de rastreamento, os modems de banda larga móvel (EvDO) e os novos appliances de banda larga fixa (WiMAx). Muitos produtos e serviços vem desses usos, o famoso M2M.
Finalmente, a grande expectativa mesmo é o super multi-funcional iPhone, da Apple, que integra não só tudo o que falamos, mas algumas batalhas meio épicas sobre o modelo de negócios, sendo a primeira delas que a Apple está criando um modelo similar ao de MVNO sem ser uma. Em outras palavras, como o aparelho sai lacrado (não tem parafusos) é a Apple que determina qual é a operadora do dono do aparelho. Além disso, independente do fato de o aparelho ter um software versátil, também é única e exclusivamente a Apple quem determina quais e como serão tarifados os serviços no iPhone. A própria operadora não tem esse direito. E como todos conhecem o conceito desenvolvido ao redor do iTunes, essa pode ser a maior chacoalhada desde o i-mode japones.
Por tudo isso, o que acontece é que o poder de processamento que está sendo embutido em tudo o que vem em um "multiphone" evolui a passos quânticos, tanto em funcionalidades dependentes de componentes físicos (cameras, memória, etc), quanto dos serviços e modelos de negócio asssociado. Portanto, é bom não confundir base instalada de assinantes com crescimento do mercado. A base de PCs não evolui tão rápidamente quanto o valor dos mercados de serviços e produtos disponíveis para eles. Nos mercados de mobilidade, então, nem se fala.

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